terça-feira, 21 de junho de 2011

Poema de Cesário Verde "Arrojos"

Arrojos Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos noturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
As mesas espelhentas do Martinho. 



Poema analisado:



1. O poema apresenta este antetítulo uma vez que o poeta tem a perfeita noção de que toda a idealização nele expressa é impossível de alcançar. Este sabe que o seu amor nunca será correspondido e que os seus atrevimentos não são mais do que suposições que este faz enquanto – provavelmente –, sentado no Martinho, vê a sua amada a passar à sua frente. Daí a repetição anafórica do "se", que expressa uma condição desejada, mas, neste caso, impossível.
2. A mulher desejada pelo "eu" lírico é uma típica mulher burguesa, cujasmãos mignonnes revelam a graciosidade de quem encanta, mas certamente de quem não trabalha. Por isso, esta mulher tem atitudes próprias da sua classe social, pois é soberba e (...)fria, é altiva, incapaz de ouvir os lamentos das cítaras estranhas, o que perfaz um temperamento obtuso perante os que a amam, pois os seus olhos indiferentes ferem como espadas.
3. A resposta a esta pergunta é pessoal e apenas está a ser avaliada a capacidade de interpretar e dar um sentido lógico e objectivo à hipérbole, pelo que se considera certa a resposta que assim o fizer.
4. Os dois últimos versos do poema espelham a realidade do sujeito poético. É o local onde se senta e sonha com a sua amada, provavelmente motivado pela sua passagem. Deste modo, revela a sua atitude passiva e resignada, de quem sabe que é incapaz de mudar a realidade e se senta em atitude de derrota. Mostra ainda a sua submissão, pois, apesar de consciente da impossibilidade correspondência amorosa, o "eu" lírico deixa-se ficar a admirar a sua amada, numa atitude de veneração e prostração, o que revela o fascínio tamanho em que se deixa envolver.
5. Denota-se, em todo o poema, uma submissão total do sujeito poético aos encantos femininos desta mulher. O poeta adora-a, venera-a e sublima-a. No entanto, confessa-se também magoado com a atitude dela, pois não lhe vislumbra qualquer sinal de correspondência amorosa. Muito pelo contrário, vê nela uma indiferença e ausência aos seus apelos, factos que o magoam e o tornam consciente da incapacidade de concretizar o seu amor. Por isso, ele limita-se a sonhar com esta sua deusa, pois sabe que nada mais poderá fazer.




quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poemas de Cesario Verde

- “Bairro Moderno”:   - Poema representativo da cidade
                                   - Transfiguração de elementos do campo para a cidade
                                   - Poesia do quotidiano

- “Contrariedades”:    - Poesia do quotidiano.
- impressão que o “fora” deixa na alma do poeta (cruel, frenético, exigente, impaciente)
- Alteração do estado de espírito -> causa: depravação nos usos e nos costumes; injustiça da vida pela doença que destrói a vizinha (abandono e exploração); recusa dos jornais em publicarem os seus versos; fim do poema: intervencionismo, denuncia e acusação do mundo injusto e pouco solidário.

Biografia de Cesário Verde

José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.
Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as actividades de comerciante herdadas do pai.
Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884).
Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901.
No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.

Linguagem e estilo de Cesario Verde

Cesário Verde é caracterizado pela utilização do Parnasianismo que é a busca da perfeição formal através de uma poesia descritiva  e fazendo desta algo de escultórico, esculpindo o concreto com nitidez e perfeição. O parnasianismo é também a  necessidade de objectivar ou despersonalizar a poesia e corresponde à reacção naturalista que aparece no romance. Os temas desta corrente literária são temas do quotidiano com um enorme rigor a nível de aspecto formal e há uma aproximação da poesia às artes plásticas, nomeadamente a nível da utilização das cores e dos dados sensoriais.

Através deste parnasianismo ele propõe uma explicação para o que observa com objectividade e, quando recorre à subjectividade, apenas transpõe, pela imaginação transfiguradora, a realidade captada numa outra que só o olhar de artista pode notar. 

Cesário utiliza também uma linguagem prosaica, ou seja, aproxima-se da prosa e da linguagem do quotidiano.
A obra de Cesário caracteriza-se também pela técnica impressionista ao acumular pormenores das sensações captadas e pelo recurso às sinestesias, que lhe permitem transmitir sugestões e impressões da realidade.
A nível morfossintáctico recorre à expressividade verbal, à adjectivação abundante, rica e expressiva, por vezes em hipálage, ao colorido da linguagem e tem uma tendência para as frases curtas.

  • Vocabulário concreto
  • Linguagem coloquial
  • Predomínio do uso do decassílabo e do Alexandrino
  • Uso do assíndeto que resulta da técnica de justaposição de várias percepções
  • Técnica descritiva assente em sinestesias, hipálages, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo e na utilização da ironia como forma de cortar o sentimentalismo (equilibrar).

Em síntese:

A principal preocupação do realismo é promover a denuncia e a analise critica dos vícios da sociedade sua contemporânea, corporizados na classe dominante, normalmente retratados em personagens tipo, que são, sem sombra de duvida, as mais funcionais para a representação de defeitos d e grupos ou sectores de uma sociedade.
Esta visão eminentemente critica da sociedade do seu tempo  resulta de uma grande preocupação em modificar as formas de vida, renovar as mentalidades e transformar a sociedade.

O Realismo

O Realismo fundou uma Escola artística que surge no século XIX em reação ao Romantismo e se desenvolveu baseada na observação da realidade, na razão e na ciência.
Como movimento artístico, surgiu na França, e sua influência se estendeu a numerosos países. Esta corrente aparece no momento em que ocorrem as primeiras lutas sociais contra o socialismo progressivamente mais dominador, ao mesmo tempo em que há um crescente respeito pelo facto empiricamente averiguado, pelas ciências exactas e experimentais e pelo progresso técnico. Das influências intelectuais que mais ajudaram no sucesso do Realismo denota-se a reação contra as excentricidades românticas e contra as suas idealizações da paixão amorosa. A passagem do Romantismo para o Realismo, corresponde uma mudança do belo e ideal para o real e objetivo.

A Questão Coimbrã e a Geração de 70

Se tentarmos definir a palavra «geração» na história da cultura de um país, deparamos antes de mais com uma dificuldade de carácter prático: pertencem a uma geração todos os que nascem e vivem numa mesma época, dentro de um período breve (dez ou vinte anos), marcado por tendências comuns importantes, ou pertencem a ela apenas alguns desses indivíduos que se destacam dó conjunto e a representam verdadeiramente? Parece justo aplicar o termo à criação comum de ideias e de obras num determinado período decisivo da cultura e da literatura de um país. Todavia, essa criação far-se-á (e permanecerá para o futuro) inevitavelmente a partir de um número restrito de escritores e de pensadores que serão os verdadeiros iniciadores de uma geração. Por isso é que o sentido meramente cronológico é, afinal, secundário, sendo mais importante o puro sentido da criação das ideias em si.

Pode dizer-se que à chamada Geração de 70 pertencem aqueles escritores da segunda metade do século XIX que a geraram no plano das ideias, estéticas ou outras, e não aqueles que a ela aderiram, prolongando-a historicamente. São eles: Antero de Quental (1842-1891), Eça de Queirós (1845-1900), Oliveira Martins (1845-1894) e Ramalho Ortigão (1836-1915). Secundariamente, a ela pertencerão: Teófilo Braga, Guerra Junqueiro, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal, Alberto Sampaio ou ainda Adolfo Coelho e Augusto Soromenho.

Ao nível histórico, a Geração de 70 situa-se no período que vai, grosso modo, até à proclamação da República, em 1910. A Regeneração separa o período de ideias revolucionárias do primeiro romantismo de Garrett e de Herculano, um período em que predomina a instabilidade política, social e económica, da época que se caracterizou essencialmente por uma estabilidade ligada intimamente ao pré-industrialismo de António Maria Fontes Pereira de Melo.

Ao nível das teorias literárias, a Geração de 70 corresponde a um terceiro romantismo (segundo o ensaísta António Sérgio), tendo-se formado no meio académico de Coimbra e reagido contra o segundo romantismo, ou seja, o ultra-romantismo académico de António Feliciano de Castilho (Questão Coimbrã, que opõe Antero e Castilho, em 1865), retomando de certo modo, ao nível das ideias políticas e culturais, o primeiro romantismo de Herculano e Garrett. No entanto, os elementos de influência ideológica são outros: Hegel, Marx, Proudhon, Comte, Michelet. Também os elementos estéticos de base implicam outras influências, sobretudo as do romantismo alemão de Heine, do romantismo visionário de Vitor Hugo na sua última fase, do realismo e do naturalismo de Zola e de Flaubert e do pré-simbolismo de Baudelaire.

A capacidade crítica da Geração de 70 atinge o seu ponto culminante com a realização das chamadas Conferências do Casino, de Maio a Junho de 1871. Nelas, Antero expõe as suas ideias de socialismo utópico, Eça critica o romantismo decadente e defende as teorias de Taine (para o qual a arte está sobretudo dependente de factores rácicos, climáticos e sociais) e o realismo à Zola e à Flaubert na arte e no romance. Com o mesmo objectivo doutrinário e crítico, mas ao nível da crónica jornalística de tipo panfletário, surgem, também em 1871, As Farpas, uma publicação mensal redigida inicialmente por Ramalho e por Eça.

Por outro lado, ainda como geração eminentemente crítica, a Geração de 70 ataca a monarquia decadente, preparando a revolução republicana de 1910. Note-se, no entanto, para lá do espírito crítico geral, a diferença entre socialismo e republicanismo, verificada sobretudo a partir da polémica entre Antero e Teófilo Braga a propósito da Teoria da História da Literatura Portuguesa, publicada por Teófilo em 1872.

Todavia, apesar de todo o seu espírito critico, a Geração de 70, na sua fase final, desiste de uma acção doutrinária e de uma intervenção histórica concreta, imediata, transformando-se no Grupo dos Vencidos da Vida. Eça, que fala dos Vencidos da Vida ironicamente como sendo apenas um «grupo jantante» que todas as semanas se reúne no Hotel Bragança «para destapar a terrina da sopa e trocar algumas considerações amargas sobre o Colares», acrescenta, num tom céptico e mesmo derrotista: para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente a que chegou-mas do ideal íntimo a que aspirava.

Dois anos depois destas observações de Eça, Antero suicida-se, em1891, marcando tragicamente toda a Geração de 70. Assim, se o espírito crítico predomina nesta geração, ele é mais ainda de autocrítica exigente e de cepticismo amargo do que de crítica triunfante e espectacular.

Biografia

José Maria de Eça de Queirós nasceu em novembro de 1845, numa casa da Praça do Almada na Póvoa de Varzim, no centro da cidade; foi baptizado na Igreja Matriz de Vila do Conde. Filho de José Maria Teixeira de Queirós, nascido no Rio de Janeiro em 1820, e de Carolina Augusta Pereira d'Eça, nascida em Monção em 1826. O pai de Eça de Queirós, magistrado e par do reino, convivia regularmente com Camilo Castelo Branco, quando este vinha à Póvoa para se divertir no Largo do Café Chinês.
Eça de Queirós foi batizado como «filho natural de José Maria d'Almeida de Teixeira de Queirós e de Mãe incógnita», fórmula comum que traduzia a solução usada em casos similares nos registos de baptismo quando a mãe pertencia a estratos sociais elevados.
Uma das teses para tentar justificar o facto dos pais do escritor não se terem casado antes do nascimento deste sustenta que Carolina Augusta Pereira de Eça não teria obtido o necessário consentimento da parte de sua mãe, já viúva do coronel José Pereira de Eça. De facto, seis dias após a morte da avó que a isso se oporia, casaram-se os pais de Eça de Queirós, quando o menino tinha quase quatro anos.
Por via dessas contingências foi entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou até passar para a casa de Verdemilho em Aradas, Aveiro, a casa da sua avó paterna que em 1900 morreu. Nessa altura, foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a Universidade de Coimbra onde estudou direito. Além do escritor, os pais teriam mais seis filhos.
Estátua na Póvoa de Varzim.
O pai era magistrado, formado em Direito por Coimbra. Foi juiz instrutor do célebre processo de Camilo Castelo Branco, juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Lisboa, presidente do Tribunal do Comércio, deputado por Aveiro, fidalgo cavaleiro da Casa Real, par do Reino e do Conselho de Sua Majestade. Foi ainda escritor e poeta.
Em Coimbra, Eça foi amigo de Antero de Quental. Os seus primeiros trabalhos, publicados avulso na revista "Gazeta de Portugal", foram depois coligidos em livro, publicado postumamente com o título Prosas Bárbaras.
Em 1866, Eça de Queirós terminou a Licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra e passou a viver em Lisboa, exercendo a advocacia e o jornalismo. Foi director do periódico O Distrito de Évora. Porém continuaria a colaborar esporadicamente em jornais e revistas ocasionalmente durante toda a vida. Mais tarde fundaria a Revista de Portugal
Em 1869 e 1870, Eça de Queirós fez uma viagem de seis semanas ao Oriente (de 23 de outubro de 1869 a 3 de janeiro de 1870), em companhia de D. Luís de Castro, 5.º Conde de Resende, irmão da sua futura mulher, D. Emília de Castro, tendo assistido no Egipto à inauguração do canal do Suez: os jornais do Cairo referem «Le Comte de Rezende, grand amiral de Portugal et chevalier de Queirós». Visitaram, igualmente, a Palestina. Aproveitou as notas de viagem para alguns dos seus trabalhos, o mais notável dos quais o O mistério da estrada de Sintra, em 1870, e A relíquia, publicado em 1887. Em 1871, foi um dos participantes das chamadas Conferências do Casino.
Em 1870 ingressou na Administração Pública, sendo nomeado administrador do Concelho de Leiria. Foi enquanto permaneceu nesta cidade, que Eça de Queirós escreveu a sua primeira novela realista, O Crime do Padre Amaro, publicada em 1875.
Tendo ingressado na carreira diplomática, em 1873 foi nomeado cônsul de Portugal em Havana. Os anos mais produtivos de sua carreira literária foram passados em Inglaterra, entre 1874 e 1878, durante os quais exerceu o cargo em Newcastle e Bristol. Escreveu então alguns dos seus trabalhos mais importantes, como A Capital, escrito numa prosa hábil, plena de realismo. Manteve a sua actividade jornalística, publicando esporadicamente no Diário de Notícias, em Lisboa, a rubrica «Cartas de Inglaterra». Mais tarde, em 1888 seria nomeado cõnsul em Paris.
Seu último livro foi A Ilustre Casa de Ramires, sobre um fidalgo do século XIX com problemas para se reconciliar com a grandeza de sua linhagem. É um romance imaginativo, entremeado com capítulos de uma aventura de vingança bárbara que se passa no século XII, escrita por Gonçalo Mendes Ramires, o protagonista. Trata-se de uma novela chamada A Torre de D. Ramires, em que antepassados de Gonçalo são retratados como torres de honra sanguínea, que contrastam com a lassidão moral e intelectual do rapaz.
Morreu em 16 de Agosto de 1900 na sua casa de Neuilly, perto de Paris. Teve funeral de Estado. Está sepultado em Santa Cruz do Douro.
Foi também o autor da Correspondência de Fradique Mendes e A Capital, obra cuja elaboração foi concluída pelo filho e publicada, postumamente, em 1925. Fradique Mendes, aventureiro fictício imaginado por Eça e Ramalho Ortigão, aparece também no Mistério da Estrada de Sintra. Seus trabalhos foram traduzidos em aproximadamente vinte línguas.